Entenda como fazer atividade física promove saúde, previne e até trata doenças.
Quando o assunto é atividade física, o primeiro benefício que vem à cabeça de muitos é a perda de peso. Mas, na verdade, ter uma vida ativa é capaz de proporcionar muito mais do que um corpo esbelto —inclusive, a boa alimentação é muito mais importante para conseguir isso do que o treino.
Exercícios físicos atuam como um remédio universal e barato: a prática promove saúde física e mental prevenindo e, muitas vezes, até tratando diversas doenças crônicas, além de ajudar a viver uma vida mais longa e com mais qualidade.
Essa reportagem especial é o primeiro de muitos conteúdos que serão publicados nos próximos sete dias para mostrar a importância de praticar atividade física regularmente. O especial abre a campanha Exercício É Remédio, que faz parte de uma série de VivaBem em que trazemos, ao longo de uma semana, conteúdos temáticos para contribuir para uma vida mais saudável e cheia de bem-estar.
A seguir, explicamos —com a ajuda de especialistas e da ciência— por que mover o corpo é a solução para muitos problemas de saúde.
Quais doenças o exercício pode prevenir
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a atividade física regular é fundamental para prevenir e controlar doenças cardiovasculares (como infarto, AVC e pressão alta), diabetes tipo 2 e diferentes tipos de câncer, além de contribuir para amenizar sintomas de depressão e ansiedade, reduzir o declínio cognitivo e melhorar a memória. Estudos apontam que a prática também ajuda a inibir quadros comuns no envelhecimento, como a osteoporose e a sarcopenia.
Um dos motivos para tantos efeitos positivos é o poder de combater o sobrepeso, que está relacionado ao surgimento de diferentes comorbidades.
Para o câncer, por exemplo, o Inca (Instituto Nacional do Câncer) explica que a obesidade provoca alterações hormonais e mantém o corpo em um estado inflamatório crônico, estimulando a proliferação celular.
Além disso, modalidades diversas, como corrida, musculação, dança, pilates e outras, promovem a melhora da circulação sanguínea, o equilíbrio dos níveis de hormônios, reduzem o tempo de trânsito gastrointestinal, fortalecem o coração, os músculos, os ossos e o sistema imunológico.
Recentemente, uma pesquisa norte-americana sugeriu que o exercício pode, inclusive, evitar o desenvolvimento da SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), caracterizada pela falta de ar, respiração rápida, tosse, fraqueza muscular e uma das complicações mais graves causadas pela covid-19.
De acordo com a análise, a prática de exercícios físicos eleva a produção da enzima superóxido dismutase (EcSOD), produzida pelos músculos e associada à proteção do sistema cardiorrespiratório.
Quanta atividade física preciso para colher benefícios?
300 minutos
Esse é o tempo de exercício moderado por semana que a OMS recomenda para garantir saúde. Aqui, não conta só o treino. Movimentos do dia a dia, como subir escadas e caminhar para ir até a padaria, também contribuem para você atingir essa meta.
Ou 150 minutos
De atividade física intensa (corrida, bike, treino funcional, musculação etc.) por semana, quando não tiver contraindicação. A recomendação também é da OMS.
Atividade física também pode ser tratamento
Ao realizar modalidades que envolvem ganho de massa magra (musculação, funcional, crossfit, pilates etc.) é possível controlar, por exemplo, o diabetes tipo 2, já que os músculos causam maior sensibilização das células à insulina. Atividades aeróbicas (corrida, bike, natação) também ajudam no quadro por reduzirem o nível de açúcar no sangue.
Já quem tem pressão alta se beneficia pela circulação mais eficiente do sangue causada quando praticamos exercícios regularmente. Portanto, o exercício pode ajudar quem tem hipertensão e/ou diabetes a reduzir a dose de remédios ou, para alguns, até dispensar as drogas.
Mesmo no tratamento de doenças agressivas, como o câncer, o exercício geralmente é benéfico (e deve ser indicado de acordo com o quadro específico de cada paciente). Uma das razões é a liberação de proteínas com função anti-inflamatória gerada pela contração muscular durante o esforço físico. Elas atuam em vários órgãos do corpo, colaborando com a prevenção e o tratamento de tumores.
Para esses pacientes, manter uma vida ativa pode, inclusive, ajudar a combater efeitos adversos de quimioterapia e radioterapia, que costumam causar fadiga, perda de massa muscular e, para alguns, ansiedade e sintomas depressivos. É importante ressaltar que, ainda que manter uma vida ativa ajude a combater e controlar doenças, o uso de medicamentos e outras terapias não deve ser interrompido sem ordem médica.
O problema, explica Fabrício Buzatto, médico do esporte e fisiatra do Hospital das Clínicas da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), é que nem todos os profissionais de saúde têm esse conhecimento.
Na faculdade, nós, médicos, não temos nenhuma formação sobre isso. Aprendemos a prescrever medicamentos, mas não exercícios ou como convencer alguém de que a atividade física é essencial.
Benefícios dos exercícios na prática
Aptidão cardiorrespiratória
Permite que você faça as atividades do seu dia a dia, como subir escada ou brincar com crianças, sem ficar cansado.
Força
Faz com que você possa carregar sacolas ou caixas, por exemplo, sem dificuldade.
Flexibilidade
Ajuda na funcionalidade do corpo ao agachar, pegar objetos e também para evitar lesões.
Equilíbrio
É o que faz você manter a postura e sustentar o corpo.
Sono tranquilo
O relaxamento e o bem-estar promovidos pelos exercícios tendem a resultar em um descanso melhor.
Energia
A longo prazo, com o ganho de aptidão física, você se sentirá mais disposto.
Para a saúde mental, exercício é fundamental
Na psiquiatria, o exercício físico é considerado um tratamento para vários transtornos. A OMS diz que, para a depressão leve, a primeira opção não é a psicoterapia nem a medicação, e sim a atividade física aeróbica. “O treino causa mudança no funcionamento dos neurotransmissores (substâncias produzidas pelos neurônios) e alivia os sintomas da doença —e também da ansiedade”, explica Ana Paula Carvalho, mestre em psiquiatria pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e uma das autoras do livro “Psiquiatria do Estilo de Vida”.
De acordo com a médica, ao longo do tempo, estudos foram mostrando que quem faz exercício tem menor risco de depressão. Já para quem tem o transtorno, é medicado e mantém uma vida ativa, o risco de voltar a ter o problema após o término do tratamento medicamentoso é menor.
Além disso, o exercício tem o poder de melhorar a memória, a concentração, a capacidade de resolver problemas e o processamento de informações, além de evitar o declínio cognitivo.
“Quem se mantém ativo tem mais produção de BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), uma substância que tem como função promover a sobrevivência dos neurônios. Estudos em andamento apontam que isso pode até resultar em um retardo dos quadros demenciais”, diz Carvalho.
E qual o melhor exercício para conseguir benefícios? Segundo a médica, é aquele que você faz regularmente.
A pessoa precisa encontrar algo que goste e possa continuar fazendo. Se não tiver prazer, não vai durar.
Nível de sedentarismo ainda é alto; mas por quê?
Mesmo com tantos benefícios —muitos deles amplamente conhecidos— boa parte das pessoas não faz exercícios. Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que 40% dos brasileiros com mais de 18 anos são sedentários. Já estimativas globais atuais mostram que 81% dos adolescentes não praticam atividade física suficiente.
O aumento de horas de exercício moderado recomendadas pela OMS, antes 150 e agora 300 minutos semanais, pode assustar e afastar ainda mais as pessoas da prática, mas de acordo com Emídio Matos, professor adjunto de educação física na UFPI (Universidade Federal do Piauí), também pode nos dar uma ideia melhor da realidade.
A literatura científica defende cada vez mais um estilo de vida ativo. O tempo de atividade física precisa ser pensado como um modo de viver. É pouco (para a saúde) fazer exercícios uma hora por dia e ser sedentário nas outras 23 horas.
O professor defende que as cidades devem ser mais bem preparadas para que as pessoas possam ter rotinas mais ativas. “A pandemia nos trouxe um convite para voltar a aproveitar o ar livre. Mas as cidades precisam ser seguras para podermos andar mais a pé, pedalar… Há de ser feito um bom planejamento.”
Por outro lado, a OMS aponta que, à medida que os países se desenvolvem economicamente, os níveis de inatividade aumentam e podem chegar a 70%, devido às mudanças nos padrões de transporte, maior uso de tecnologia para trabalho e recreação, valores culturais e crescentes comportamentos sedentários.
“Para alguns, é falta de colocar como prioridade. Mas outros realmente não têm tempo —passam o dia se deslocando ou trabalhando. Depende muito da realidade socioeconômica”, complementa Fabrício Buzatto.
Fonte: VivaBem Uol